CIDADE//
Mobilidade urbana tem sido renegada pelos gestores
Com o
crescimento desenfreado e o caos urbano das grandes cidades, a mobilidade
urbana vem ganhando espaço nos noticiários. Dentre os diversos profissionais que
se dedicam ao tema, a jornalista Tânia Passos se destaca. Com a reportagem “Sinal
Fechado” venceu o prêmio “Urbano de Jornalismo”, da Rota Mídia Exterior. Setorista
de mobilidade urbana do Diário de Pernambuco, Tânia atua há 23 anos no
jornalismo. Aproveitando que a
comunicadora esteve no dia 18 de Abril na Barros Melo para uma palestra aos
alunos do 3° período de jornalismo. A equipe do “Alô Liberdade” conversou com ela
e perguntou sobre suas visões e perspectivas para o futuro da mobilidade urbana
no Recife:
Alô Liberdade: Nas
suas publicações no blog: “mobilidade urbana” você prefere utilizar um tom
opinativo ou apenas expositivo dos fatos?
Tânia Passos: Faço sempre
uma mistura de ambos, busco sempre relatar o que as autoridades e os
especialistas da área dizem sobre determinado tema, mas também faço uma análise
de seus argumentos. Às vezes, muitas respostas são sem sentido, por isso é
preciso mais do que expor, analisar o que foi dito. Algumas assessorias, como por
exemplo, a da CTTU, insistiam em fornecer respostas totalmente sem nexo para os
meus questionamentos. Com o tempo, minhas análises passaram a ridicularizar involuntariamente
suas respostas, pois apresentavam argumentos bem embasados. O jornalista de um
veículo impresso não pode nunca se limitar a apenas relatar um fato, pois o
jornal impresso permite que o profissional possa se aprofundar mais em um
determinado tema, ao contrário do que acontece em outros veículos, entre eles a
televisão.
Alô Liberdade: Tânia,
os leitores do blog “mobilidade urbana” costumam comentar sobre seus textos através
do fórum e opinar nas enquetes promovidas pelo blog. Isso influencia no seu trabalho, algum leitor já
pautou você?
Tânia Passos: Sim, fico feliz
pelo meu blog ser muito acessado e receber muitos comentários, acredito que ele
seja, de todos os blogs dos setoristas do Diário de Pernambuco, o que recebe
mais comentários. Tenho um leitor em especial, de nome “Raimundo”, que comenta
sempre. Eu não o conheço, mas ele comenta em todas as minhas postagens. Acredito
que ele seja alguém com formação técnica em arquitetura e urbanismo, já que
seus comentários são sempre muito coerentes e bem embasados. A minha matéria
sobre o “corredor leste-oeste” foi feita graças a uma informação fornecida por
ele em um de seus comentários e checada por mim. Às vezes, eu apenas digo o
seguinte nos comentários: “É como Raimundo disse” (risos).
Alô Liberdade: Quais as principais ações necessárias para que o
Recife possa ter no futuro uma melhor mobilidade urbana? E em quanto tempo isso
seria possível?
Tânia Passos: Não há como precisar ao certo o tempo
para termos um “trânsito dos sonhos”, mas é certo que algum tipo de ação mais
eficaz precisa ser iniciada. Acredito que essa ação seria a criação de uma
engenharia de tráfego. Ela seria capaz de prever possíveis situações de
acidente e apontar soluções. Isso não existe em Recife e Olinda. Por isso,
quando há um acidente tudo fica parado. Para que vocês possam ter ideia do
problema, a cada 15 minutos de trânsito parado o tempo estipulado para que ele
volte ao normal é de 3 horas. Em São Paulo, cidade onde existe o serviço de
engenharia de tráfego, o município dispõe até de um serviço que lava a via em
caso de acidente que derrame óleo ou algo semelhante, já que isso pode ocasionar
um acidente. Além disso, é importante ressaltar o fato de que as câmeras de
monitoramento das vias estão instaladas em locais incorretos, como por exemplo,
a da Agamenon, onde a câmera está situada na área próxima ao viaduto do
Torreão, no entanto o principal “gargalo” da via é em frente ao hospital da
Restauração.
Alô Liberdade: Como você observa a interferência de setores
privados, entre eles construtoras e grupos econômicos específicos, em obras que
dizem respeito a um interesse coletivo, que é o da mobilidade urbana? Sobre
isso, você é a favor ou contra projetos como o “Novo Recife” e os “viadutos da
Agamenon”?
Tânia Passos: Sou contra os
dois, isso por analisar os empreendimentos do ponto de vista da mobilidade. No
que se refere ao “Novo Recife”, não concordo com a ausência de comunicação,
prevista no projeto, da área com vias como a Av. Sul e a Av. Dantas Barreto. Deveriam
ser abertas no mínimo vias transversais para escoar o trânsito da localidade. Sem
falar em uma possível destinação da área para utilização pública, algo que o
Recife demanda bem mais. No caso dos viadutos da Agamenon Magalhães, acredito
que eles serão uma das maiores agressões praticadas contra o Recife. O pedestre
não é levado em consideração pelo projeto dos viadutos, não há nele espaço para
a circulação de pessoas. Caso os viadutos sejam realmente construídos, nós
teremos que utilizar longas passarelas e elevadores para nos locomover. Essa é
a continuação da política de privilegiamento do carro, a exemplo do que ocorreu
na Av. Domingos Ferreira, que tem oito faixas e teve seu canteiro central encurtado,
dificultando assim a travessia dos pedestres. Poderíamos ter na Agamenon, por
exemplo, uma requalificação e utilização do canal como locomoção. Por mais que
exista uma faixa exclusiva para ônibus na via, precisamos lembrar que há nela
oito cruzamentos não sincronizados. O sincronizamento ajudaria, mas não seria
capaz de resolver o problema. Acredito que o governo neste momento recuou pelo
fato de esse ser um assunto delicado e da obra demandar um grande planejamento logístico,
algo difícil de ser feito às vésperas de uma copa do mundo. Passado esse
momento, acho que o governo voltará a investir na ideia, já que para eles é
mais conveniente atender a determinados interesses privados, do que planejar e
executar um projeto sério a longo prazo.
Entenda mais: Mobilidade Urbana
Matéria: Marina Moura e Domingos Sávio.
Fotos: Marina Moura e Divulgação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário