*Angelo Cabral é estudante de Geografia da universidade Federal de Pernambuco, e estagiário no Serviço Geológico do Brasil o CPRM.
No que se refere à desigualdade de gênero, temos uma abordagem da
Sociologia que abrange aspectos além do senso comum ou dos padrões
estabelecidos sobre o assunto. Enquanto o Essencialismo trabalhava a ideia de
que as diferenças anatômicas entre os gêneros levariam a um comportamento
submisso das meninas e uma postura dominadora entre os meninos, dentro da
perspectiva do construtivismo temos uma abordagem mais completa e sensata sobre
o assunto. Basicamente o Construtivismo Social defende que a formação das
pessoas dentro de sua cultura, ambiente familiar, organização política e
padrões estabelecidos desenvolvem importante papel para a definição dos papéis
de cada gênero na sociedade. Sendo assim, a submissão da mulher com relação ao
homem não é algo recorrente em todos os períodos da humanidade. Dentro da
Sociologia, considera-se a desigualdade como algo construído com o passar dos
tempos e essa construção data desde 5.000 a.C.
Culturas mais antigas de povos que viviam da Velha Europa, por exemplo, nutriam
uma cultura onde a igualdade entre gêneros era mais próxima da neutralidade.
Dentro da religião, o Culto à deusas da fertilidade davam um papel mais digno
às mulheres dentro de sua organização. Com as constantes guerras que ocorriam
entre os povos, aqueles que tinham uma organização hierárquica que cultuavam a
força e as guerras, geralmente possuíam uma desigualdade maior entre gêneros
dando mais importância ao homem. Esses povos dominavam as culturas mais fracas
disseminando seus preceitos tanto políticos como religiosos e com o tempo essa
desigualdade entre homens e mulheres foi se espalhando devido a dominações de
guerras e imposição de culturas machistas.
Além disso, temos o aspecto econômico dos povos antigos voltados para a
agricultura. Na qual, as mulheres acabaram sendo desvalorizadas devido as suas
limitações por gravidez, amamentação e cuidado com os filhos, abrindo espaço
para os homens que dispunham de maior tempo no campo além da força física
exigida nas tarefas agrícolas, o que contribuiu para uma desigualdade mais
acentuada.
Temos também o aspecto profissional no qual os homens tinham mais facilidade em
aderir à vida política ao tempo em que as mulheres se limitavam à vida
doméstica ou setor privado. Com o tempo, essa divisão foi ganhando um aspecto
natural para o senso comum estabelecendo um padrão fixo nas sociedades. No
decorrer dos anos, a luta das mulheres por uma igualdade ganhou espaço fazendo
com que conseguissem o acesso às universidades e atuação profissional em
diversas áreas ampliando seu espaço na vida pública.
Com base nesses aspectos históricos, temos uma idéia mais clara da diferença de
gêneros atual: A cultura das sociedades ao longo dos séculos estabeleceu, com
suas mudanças, papéis restritos (ou preferenciais) aos homens enquanto as
mulheres se viam excluídas devido a limitações físicas e o cuidado com os
filhos. Importante ressaltar que as limitações físicas acabaram por ter
influencia no senso comum, na cultura das pessoas, mas não foram fatores
exclusivos causadores das desigualdades como afirmava o Essencialismo. Sendo
assim, as conseqüências que existem hoje, foram construídas desde tempos mais
antigos da humanidade e deve ser analisada de modo mais profundo e crítico.
Hoje essa desigualdade ainda existe, mas com muitas melhorias nesse aspecto
devido a lutas e conquistas de movimentos organizados para essa causa. Mesmo
assim, as mulheres ainda convivem com problemas (principalmente profissionais)
com essa preferência ao gênero masculino que ainda é forte na cultura atual.
Tendo em vista esses argumentos, podemos tratar de questões como a remuneração
de trabalho das mulheres que é mais baixa que a dos homens. Acusações de baixa
remuneração por discriminação de gênero são constantes na esfera profissional e
é um assunto recorrente e principal causa de lutas entre os movimentos
feministas, principalmente. Temos ainda a questão doméstica no que diz respeito
à divisão das funções que acabam atrapalhando o rendimento feminino no mercado
de trabalho. Seja por questão cultural, formação familiar ou qualquer outro
motivo, as mulheres têm uma carga doméstica muito grande em comparação com os
homens, que dedicam maior parte de seu tempo à carreira profissional. Lidando
com essa realidade, as mulheres geralmente tendem a trabalhar em setores
informais e/ou com baixa remuneração tendo ainda que lidar com a jornada
doméstica, tendo assim, uma jornada dupla de trabalho.
Além da desigualdade no aspecto profissional, as mulheres ainda se vêem vitimas
do assédio sexual causado por essa diferença. Seja em casa ou no trabalho, por
motivos diferentes em seu contexto, mas iguais em sua essência, constantemente
chegam ao nosso conhecimento casos de abusos e estupros contra a mulher em suas
áreas de atuação doméstica e profissional. Comumente se interpretam os homens
agressores como pessoas com desvios mentais, mas nem sempre isso é verdade.
Pesquisas e entrevistas com agressores mostram que muitas vezes, o homem que
comete essa transgressão, goza de faculdades mentais sadias e por vezes
arquitetam planos e situações para que consiga realizar o estupro ou assédio. A
racionalidade utilizada na projeção dos atos violentos exclui a possibilidade
de uma doença psicológica, doença essa, que amenizaria o aspecto criminoso
dessas atitudes em sua maioria. Sabemos que a formação dessas pessoas desde sua
infância, tem grande influencia nesses atos. Geralmente, constata-se que esses
homens conviveram com uma família onde o pai era a figura dominante e com
temperamento frio e indiferente em relação à sua esposa, ao tempo em que ela
sempre apresentava uma posição de inferioridade. Violência doméstica
presenciada pelos filhos, abuso sexual durante a infância, são fatores que
levam muitas vezes a esse tipo de atitude. O homem sente a necessidade de ser
dominador, ter o controle sobre a outra pessoa e, muitas vezes, acaba sendo
inclinado a esse tipo de ato por não sentir empatia pelas mulheres por conta de
suas revoltas ou traumas internos.
Além do estupro, o assédio sexual dentro do ambiente de trabalho, em sua maioria,
gera grandes complicações na convivência e no desempenho profissional das
mulheres. Geralmente baseado em relações de poder, chantagens, ameaças, todos
esses motivos servem de base para o assédio. Retomamos mais uma vez ao aspecto
cultural que leva o homem a se sentir em uma posição dominante com relação à
mulher e que usa dessa condição para justificar suas atitudes abusivas. A lei
brasileira estabelece como assédio os atos realizados por posições hierárquicas
superiores basicamente. Mas é entendido que o assédio pode e ocorre de posições
mais baixas aos níveis mais altos dentro de um ambiente de trabalho. A mudança
da legislação e das políticas nos ambientes de trabalho que visem dar uma maior
atenção e punição a esse tipo de atitude, também é uma das principais causas de
lutas dos movimentos femininos em busca de uma igualdade de gênero.
Atualmente temos os movimentos em defesa das mulheres e da igualdade entre os
gêneros de forma fortalecida e fruto de uma longa caminhada de militância que
vende desde o século XIX. A luta pelo direito à educação, ao emprego e a
participação nas eleições foram as causas primordiais dessa luta considerando a
organização da sociedade até meados do século XX. A luta das mulheres enfrentou
muitas criticas e perseguições ao longo da caminhada. No Brasil enfrentou o
período de ditadura, tendo vários membros exilados pelo regime. A luta pelos
direitos das mulheres atinge uma escala global, exigências contra o abuso
sexual e o controle reprodutivo são outros pontos de foco desse movimento.
Temos também o desejo pela democracia política e social abrangendo as
desigualdades socioeconômicas, a questão urbana, ambiental, racial/étnica e o
trabalho das mulheres tanto doméstico como profissional. Enfim, existe uma
ânsia pela melhor atuação da mulher nos diversos segmentos e assuntos tratados
na sociedade que ainda alimenta uma capacidade de decisão voltada aos homens.
Temos aí, algumas mudanças que vem ocorrendo com o passar dos anos frutos de
uma luta incessante, se comparando com a condição passada das mulheres, as
mudanças são extremamente positivas, mas ainda há muito que ser alcançado. Uma
organização política forte é crucial para a relevância da mulher nessa
empreitada, mostrando a força e a união que comumente é atribuída ao gênero
masculino. E essa militância vem conseguindo cada vez mais espaço na sociedade
e diminuindo essa discriminação cultural que temos com relação aos gêneros,
afinal, se houve uma igualdade de gêneros nos milênios da pré historia, é no
mínimo necessário que venha a existir essa igualdade, ainda mais aperfeiçoada,
na dita sociedade moderna em que vivemos.
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