5 de jul. de 2012

Recife em Preto e Branco: Febre do Rato

Por: Raíza Hanna
Imagem: Divulgação





             Vou ao Cinema da Fundação em pleno fim de semana de estreia de Febre do Rato para conferir o tão esperado filme de Cláudio Assis. O clima do cinema é aquele tão conhecido, as mesmas pessoas tão interessadas em cinema de verdade, em arte, e ainda bem que ainda tem gente que procura por ela. Mas o mais interessante é já antes mesmo de entrar na sala de cinema e conferir a nova película de Assis, imaginar que todos aqueles recifenses vão entrar no filme e viver sua realidade cotidiana, e se ver na tela: Num Recife preto e branco e nosso.

            O filme já começa pelo nosso cartão postal, os rios que cortam a cidade e que estamos tão familiarizados, as paisagens lindas, tão lindas e tão sujas da atual Recife. Então somos transferidos pras ruas sujas de uma favela, os rostos pobres e mesmo assim alegres, e damos de cara com alguém que grita e tenta vender seus ideais, se trata de Zizo, o personagem principal da narrativa, tão magnificamente interpretado por Irandhir Santos, um poeta marginal, anárquico, e tão mangue beat quanto somos um pouco todos nós.

            Através do olhar de Zizo, passamos a enxergar o Recife bonito, quente, e cheio de amor e sujeira, sujeira no chão, no rio, nos palavrões, na favela. Uma sujeira bonita, e sem pudor. A narrativa nos mostra a relação de Zizo com seus amigos e familiares, sua mãe tão anárquica quanto ele, ou pelo menos passivamente anárquica, seus quatro amigos que vivem juntos, e dividem a cama e corpos (três homens e uma moça), suas duas vizinhas coroas e amantes de Zizo, seu casal de amigos homossexual, e Eneida, por quem se apaixona perdidamente, e transforma dessa paixão, o fervor de seus poemas, de seus manifestos, de sua arte.


            Zizo passa a amar Eneida de forma poética e platônica, e tem até medo de toca-la, divinizando a jovem e a tratando como uma jóia rara. Eneida acha tudo tão bonito que brinca com Zizo, rir do seu amor, ao mesmo tempo em que sente arder em seu corpo a vontade de tê-lo.


            Cláudio Assis acerta em seu terceiro filme, e segue sua linha de filmes com sutaque pernambucano, realidade, crueza e nudismo. Mas febre do rato é mais lírico, mais intenso emocionalmente, surge com seu tom poético e brinca com a nossa cultura que por si já é quente e letrista. Afinal, em Recife todo mundo é um pouco artista!

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