Imagem: Divulgação
Vou ao
Cinema da Fundação em pleno fim de semana de estreia de Febre do Rato para conferir
o tão esperado filme de Cláudio Assis. O clima do cinema é aquele tão
conhecido, as mesmas pessoas tão interessadas em cinema de verdade, em arte, e
ainda bem que ainda tem gente que procura por ela. Mas o mais interessante é já
antes mesmo de entrar na sala de cinema e conferir a nova película de Assis,
imaginar que todos aqueles recifenses vão entrar no filme e viver sua realidade
cotidiana, e se ver na tela: Num Recife preto e branco e nosso.
O filme já começa pelo nosso cartão
postal, os rios que cortam a cidade e que estamos tão familiarizados, as
paisagens lindas, tão lindas e tão sujas da atual Recife. Então somos transferidos
pras ruas sujas de uma favela, os rostos pobres e mesmo assim alegres, e damos
de cara com alguém que grita e tenta vender seus ideais, se trata de Zizo, o
personagem principal da narrativa, tão magnificamente interpretado por Irandhir
Santos, um poeta marginal, anárquico, e tão mangue beat quanto somos um pouco
todos nós.
Através do olhar de Zizo, passamos a
enxergar o Recife bonito, quente, e cheio de amor e sujeira, sujeira no chão,
no rio, nos palavrões, na favela. Uma sujeira bonita, e sem pudor. A narrativa
nos mostra a relação de Zizo com seus amigos e familiares, sua mãe tão anárquica
quanto ele, ou pelo menos passivamente anárquica, seus quatro amigos que vivem
juntos, e dividem a cama e corpos (três homens e uma moça), suas duas vizinhas
coroas e amantes de Zizo, seu casal de amigos homossexual, e Eneida, por quem
se apaixona perdidamente, e transforma dessa paixão, o fervor de seus poemas,
de seus manifestos, de sua arte.
Zizo passa a amar Eneida de
forma poética e platônica, e tem até medo de toca-la, divinizando a jovem e a
tratando como uma jóia rara. Eneida acha tudo tão bonito que brinca com Zizo,
rir do seu amor, ao mesmo tempo em que sente arder em seu corpo a vontade de
tê-lo.
Cláudio Assis acerta em seu terceiro
filme, e segue sua linha de filmes com sutaque pernambucano, realidade, crueza
e nudismo. Mas febre do rato é mais lírico, mais intenso emocionalmente, surge
com seu tom poético e brinca com a nossa cultura que por si já é quente e
letrista. Afinal, em Recife todo mundo é um pouco artista!
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